Death Stranding: Review

O peso de um nome: Hideo Kojima e a liberdade criativa
Após sua saída da Konami e do fim turbulento da parceria que deu vida à série Metal Gear, Kojima criou seu estúdio independente e apresentou *Death Stranding* como seu “primeiro filho livre”. Esse contexto ajuda a entender porque o jogo é tão experimental: é quase como se cada detalhe fosse uma mensagem sobre liberdade, reconciliação e reconstrução.
Jogabilidade: entrega, estratégia e paciência
À primeira vista, *Death Stranding* pode parecer apenas “um simulador de entregas”. Mas basta jogar por algumas horas para perceber a profundidade do sistema: transportar cargas, equilibrar peso, construir estruturas, ajudar outros jogadores indiretamente… Tudo faz parte de um grande quebra-cabeça cooperativo.
Essa mecânica transforma o simples ato de caminhar em algo tenso e gratificante. Enfrentar encostas escorregadias, tempestades de Timefall (chuva que acelera o envelhecimento) e áreas infestadas de BTs (criaturas invisíveis) faz com que cada entrega seja única. É um jogo que exige paciência e planejamento, recompensando quem se envolve com suas regras.
Visual e direção de arte: a beleza do vazio
Graficamente, *Death Stranding* impressiona com cenários que misturam desolação e grandiosidade. Montanhas nevadas, planícies cobertas por névoa e ruínas futuristas compõem uma América fictícia que parece ao mesmo tempo familiar e alienígena. A fotografia e iluminação são quase cinematográficas, transformando paisagens vazias em personagens vivos da narrativa.
O contraste entre o protagonista solitário e as enormes paisagens reforça o tema central do jogo: estamos sozinhos, mas precisamos uns dos outros para sobreviver.
Trilha sonora e imersão: poesia sonora
As músicas licenciadas de artistas como Low Roar e Silent Poets aparecem de forma sutil, sempre em momentos chave — criando uma sensação de poesia e melancolia que raramente vemos em outros jogos. É impossível esquecer a sensação de atravessar uma colina exausto e, de repente, ser acolhido por uma música suave que transforma cansaço em contemplação.
Além disso, os efeitos sonoros — do ranger dos equipamentos ao som da chuva corrosiva — ajudam a criar uma imersão quase total.
Narrativa: conexões, morte e renascimento
O enredo de *Death Stranding* é complexo, cheio de conceitos inventados e teorias sobre vida, morte e transcendência. A história acompanha Sam Porter Bridges, interpretado por Norman Reedus, encarregado de reconectar uma nação despedaçada após um evento apocalíptico.
Essa narrativa, repleta de personagens estranhos e situações surreais, fala sobretudo sobre conexões — não apenas físicas, mas emocionais e espirituais. É uma reflexão profunda sobre como, mesmo em tempos de isolamento, precisamos uns dos outros para seguir adiante.
Experiência social: multiplayer assíncrono
Um dos aspectos mais inovadores é o sistema de multiplayer assíncrono: não vemos outros jogadores, mas podemos encontrar estradas, pontes e cordas que eles deixaram. Essa mecânica cria uma sensação de solidariedade rara nos games: saber que alguém construiu uma ponte que facilita nosso caminho emociona mais do que parece.
É uma mensagem poderosa de que pequenos gestos podem mudar a vida de outras pessoas, mesmo sem saber quem são.
Prós e contras
- Prós: história original e provocativa; ambientação única; trilha sonora emocionante; mecânica social inovadora; liberdade artística rara em jogos AAA.
- Contras: ritmo lento que pode frustrar; jogabilidade repetitiva para alguns; história que pode parecer confusa ou excessivamente abstrata.
Veredicto final
*Death Stranding* não é apenas um jogo — é quase uma carta aberta de Kojima ao mundo sobre solidão e esperança. É uma experiência que exige entrega do jogador: é preciso estar disposto a andar devagar, observar detalhes e refletir. Para quem aceita o convite, é uma jornada inesquecível.
Nota: 9/10 – Estranho, denso e brilhante. Um clássico moderno que vai continuar sendo debatido por muitos anos.